Ressonâncias do Amanhã

LEIA O COMEÇO DO CONTO

Trecho do diário de Ursulina de Jesus
Vila de São Paulo
5 de abril de 1754

Ave Maria, meus escritos pessoais são apenas a evasão do mundo em que vivo. O que julgava ser somente um sonho, agora é algo que me perturba. Por três noites sonhei com esta pessoa, que repete com ardor as mesmas coisas. Estou apavorada. Meu esposo não pode ter conhecimento dos meus sonhos. Temo revelar algo durante o sono, e assim ele suspeitar de algo. Estou excessivamente temerosa, ó Santíssima Virgem Maria. Que o sacrossanto sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo me guarde.

Delicadamente Ursulina assoprou o papel para acelerar a secagem da tinta. Colocou a pena no tinteiro e levantou-se devagar para não fazer nenhum barulho com o arrastar da cadeira, pois talvez seu marido já estivesse em casa e ela não tivesse percebido. Caminhou até o criado-mudo ao seu lado da cama e puxou-o com força. Quase nenhum som foi emitido, pois, sob seus pés, havia uma base de tecido grosso, que Ursulina colocara certo tempo atrás. Parte do assoalho estava solto. Ela o removeu e com cuidado colocou o diário sobre a Bíblia que já estava lá. Sem perder muito tempo, deixou tudo como estava. Se o marido soubesse que ela sabia ler e escrever, seria banida de sua vida.

…

Este conto foi originalmente publicado na revista “Histórias Extraordinárias”, em agosto de 2024.

A versão em inglês, Resonances of Tomorrow, recebeu menção honrosa no L. Ron Hubbard’s Writers of the Future Contest em 2024.

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